1/13/2020

chão







        pelas manhãs não
        transponho como
        os gatos os rastros
        do passado não

        anuncio como
        os cães rumores
        inesperados passos
        na varanda

        percorro as horas
        comuns carrego
        comigo todos
        meus erros

        envelhecendo meu
        corpo narra a
        vingança da
        memória



Adair Carvalhais Jr



fronteira







                                       p Carol


tudo quanto rodeia um
tanto cru árido tudo
um tanto
acre

tudo que
avulta morros
altíssimos inalcansáveis

que margeia tanto
vazio imensurável
distância

o que se deixa jamais
volta o que foi
interminável



Adair Carvalhais Junior



10/05/2019

nascente






        penetra pelas janelas arde
        nos olhos fustiga a pele
        cansada

        permanece vazio o banco
        grande sob o
        beiral

        canta um galo mas não
        é o bandido talvez

        espere que sorrias
        pro dia

        aqui não surge
        ninguém estendem se
        as horas faz falta

        você neste silêncio
       
        espesso
       

Adair Carvalhais Jr

espera







        avassaladora a lua no topo
        das árvores assombra a
        noite rompe
        o silêncio converte
        em dia a
        madrugada

        atravessa o céu ocupa
        o cume lenta
        consente

        a escuridão encobre
        a terra espessa
        as horas

        longe por trás
        dos morros arde
        o horizonte subjuga
        as sombras anuncia
        cada tijolo a varanda toda
        a casa

        na janela olhos
        exaustos

        descortinam


Adair Carvalhais Jr

infinito







        de onde vim um vasto
        vazio degradava os
        pés feridos cambaleavam sobre
        pedras olhos
        turvos perseguiam
        luz

        errantes as ruas afrontavam
        os dias corrompiam
        as mãos sob
        trapos solitárias as
        noites
        extraviavam se

        súbito as horas
        mortas adivinhavam
        teu corpo longínquo o
        sossego de tua voz

       
=

        de onde te pressentia
        as tardes revestiam se
        de vinho

        ansiosos os olhos sondavam
        tua voz

de onde te adivinhava
as ruas claras
sugeriam promessas
       
os pés atreviam se
nas águas

o mar insinuava luas


=

        de onde te avisto os
        morros desenham desejos
        nas janelas

        cedo o sol invade
        alegra nossa cama

        há nas manhãs um sonho
        rebrotando um
        abrigo

        de árvores se
        erguendo

        de onde te toco as
        as pedras alçam
        lares

        a lua penetra leve
        acinzenta as paredes

        nas noites o odor
        do vinho aventura se
        em nossos corpos

        abrem se incomensuráveis
        caminhos de terra


Adair Carvalhais Jr