10/24/2009

L ANTRUIDO DE LAS PALABRAS

Las palabras agárran-se a las cousas i al tiempo
Bénen de tan longe cargadas de bida i sentido
Que solo se deixan conhecer por música.
Screbir ye poner un maçcarilha que las sconde
I las deixa a drumir asperando quien las diga

Hai palavras culas alas de l sentido cortadas
E quando las dezimos nun son capazes de bolar
Nien nós las entendemos
Porque andamos culhas ne l bolso
Como cachico de bida que quedou agarrado a um retrato.

Las palabras ténen bilhete d’eidentidade
I certidón de nacimiento:
Hai que antrar an casa deilhas ua por ua
Çcubrir l que tén andrento
I stendé-las a la jinela cumo mantas an manhana de San Juan.


O ENTRUDO DAS PALAVRAS

Poema de Fracisco Niebro
Original escrito em língua mirandesa
Tradução de João Ferreira

As palavras agarram-se às coisas e ao tempo
Vêm de tão longe carregadas de vida e de sentido
Que só se deixam conhecer por música.
Escrever é pôr uma máscara que as esconde
E as deixa a dormir esperando quem as diga.

Há palavras com as asas do sentido cortadas
E quando as dizemos não somos capazes de voar
Nem nós as entendemos
Porque andamos com elas no bolso
Como cachico de vida que ficou agarrado ao retrato.

As palavras têm bilhete de identidade
E certidão de nascimento
Há que entrar em casa delas uma por uma
Descobrir o que têm dentro
E estendê-las à janela como mantas em manhã de S. João.

(Do livro “Cebadeiros”, da autoria de Fracisco Niebro. Porto: Campo das Letras, 2002)

O mirandês é falado no nordeste português (em Miranda do Douro-região de Bragança) sendo um dialecto do leonês. No entanto foi há uns anos considerado língua oficial que se ensina, ao lado do português, nas escolas da região.

2 comentários:

Amélia disse...

Foi bom ter podido ler aqui um poema em mirandês...creio que está em curso a tardução de OS LUSIADAS para mirandês.

Adair Carvalhais Júnior disse...

um belo poema que, que conheci através de você.