1/16/2011

trânsito


                                               I -
Os que passam rompem a paisagem, avançam sobre neblinas.
                             Walden Carvalho


nos dias mornos
a grama cresce              
branda e silenciosa
                           
tudo existe
à margem

e o tempo se ampara
na majestade das árvores



                                              II-     

Quem espera (...)  faz parte da solidão de quem  passa.

                   Walden Carvalho



passos decididos assediam
cada esquina
da terra

corpos inquietos exploram
as vizinhanças 

sopra um vento remoto
entre as dobras do tempo
                           
nos dias vastos

                                     III-  


os que silenciam entrelaçam
sua solidão na carne
dos que passam

os que resistem abraçam
as lembranças incrustam se
na paisagem

que não tem sentido
sem os que se deixam

levar


Adair Carvalhais Júnior
(poema e foto)







12 comentários:

Soledade disse...

Adair, direi algo mais no buteco ou na letras, mas aqui só uma nota rápida: muito bom, mesmo, meu amigo! Que alegria ler este poema!
Beijo, bom domingo!
Sol

Anônimo disse...

Obrigada por esses versos que me fazem "transitar" no recôndito de minha alma desejosa de mais desejos.
Dília

Amélia disse...

faço eu o 1º - e, para não variar, digo que é um excelente poema.Beijo

Adair Carvalhais Júnior disse...

Sol, Dília e Amélia

Este poema me deu um enorme trabalho, várias dificuldades num caminho que, espero, seja frutífero.

Saber que vocês, de tão bom gosto, o apreciam, me deixa muito feliz: valeu a pena.

Anônimo disse...

Mais uma vez, porque ele merece muitos:
Nunca foi tão boa e tão forte essa sensação de estar cruzando neblinas.
O caminhar sempre me interessou de uma forma inconsciente, ou melhor, impensada. Mas sempre da perspectiva do caminhante. Estes versos me ilustram com perfeição a perspectiva de todos os, por assim dizer, caminhados: os que ficam e os que são levados. O cenário é mais amplo, e talvez por isso mais belo e sofrido. Só agora percebo que tinha uma imagem incompleta.
Com esse poema você acaba de me dar a perfeita definição do tempo.

Ju

Adair Carvalhais Júnior disse...

Todo poeta gostaria de definir o indefinível. E o tempo é o maior destes indefiníveis.

Mas se para você este poema define o tempo ele, o poema, está completo e perfeito. E eu, o poeta, completamente realizado.

Unknown disse...

Temporalidade, silêncio e solidão: na linha do Homem, delineando suas margens, é o que o entrelaça na própria carne. O trânsito das paisagens não só é contexto, mas a própria condição de quem passa. Imagens e palavras muito bem entrelaçadas. Gostei muito, Adair. Denise.

Adair Carvalhais Júnior disse...

Seja muito bem vinda.

Obrigado pela re-leitura do poema.


um abç

Mari Amorim disse...

transito na viagem do conhecimento nesta linda estação!
Um grande abraço,poeta genial.
Mari

Adair Carvalhais Júnior disse...

Outro abração, Mari exagerada.

Ana Claudia disse...

E também "O mundo do rio não é o mundo da ponte" (Guimarães Rosa) Sabe, essa sua poesia está nesse mesmo nível, para mim.

Adair Carvalhais Júnior disse...

No nível de Rosa, Ana Cláudia ? Uau, que prestígio !

Que bom que vc gostou tanto assim.

Apareça mais.

Obrigado.